segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Miltinho - Mulher de Trinta




Miltinho, cantor que faleceu hoje, é tema do texto abaixo que foi publicado
no Jornal Regional, em maio de 2008.
Cantor da década de 1960/70 fez muito sucesso com músicas que marcaram
época.

Mulher de trinta
Maria Luiza Bonini Amendola

“...Você mulher,
Que já viveu, Que já sofreu
Não minta.
Um triste adeus, nos olhos seus
A gente vê, mulher de trinta...”
Esse é o começo da letra de uma música cantada por um cantor chamado Miltinho, mais ou menos em mil novecentos e sessenta e pouco. Miltinho fez muito sucesso naquela época e aproveitou para cantar tudo a que tinha direito. Na verdade, não era um grande cantor e sua voz não era nem bonita e nem feia, mas era uma voz característica, inconfundível e, talvez por isso mesmo tenha feito tanto sucesso.
Sempre gostei muito de música e nessa época eu vivia grudada em algum rádio ouvindo músicas o dia todo. Afinal, meu único compromisso era com o estudo, e eu freqüentava a Escola Normal do Instituto Justino Falleiros, em Ituverava. Mas, voltando ao cantor Miltinho, ele não era bem o tipo de cantor que eu gostava. E essa música em especial, “Mulher de trinta”, eu detestava. Achava horrorosa.
“...No meu olhar, na minha voz,
Um novo mundo sinta.
É bom sonhar, sonhemos nós,
Você e eu, mulher de trinta...”
Essa é a seqüência da letra da tal música.
Acho que de tanto ficar ouvindo rádio, acabei casando com o então dono da Rádio Cultura de Ituverava, o Zé Maurício, que não é mais dono de rádio, mas é meu marido há quarenta e um anos.
Zé Maurício também, apesar de ser completamente desafinado, não sabe viver sem música.
A música sempre fez parte da nossa vida. Concordando ou discordando acabamos assimilando os gostos musicais um do outro, e, hoje, eu aceito e até ouço Francisco Alves, um cantor que foi chamado de “o rei da voz”, nos anos 1940 a 1952, ano de sua morte, e Zé Maurício também aceita  e ouve João Gilberto, cantor que está aí até hoje.
Mas, quando casamos, eu que tinha então vinte anos, ficava louca da vida, quando ele “cantava” para mim, “Mulher de trinta”. Achava aquilo uma afronta. Mulher de trinta? Que qué isso? Eu só tenho vinte anos. Ora, já se viu? Eu dizia.
E “Mulher de trinta”, foi sendo cantada por ele ao longo da nossa vida e eu repudiando a música.
E o tempo foi passando. Dez anos, vinte anos, trinta anos, e a “Mulher de trinta” foi ficando novinha, novinha. E eu, bem, eu, eu não, nós só fomos envelhecendo.  
“...O amanhã, sempre vem,
E o amanhã pode trazer alguém...”
Aí está o final da letra da música.
Puxa vida, outro dia, quando Zé Maurício cantarolou essa música, vi que a “Mulher de trinta” não me aborrece mais. Até me agrada. E falei para o Zé Maurício:
- Querido, quanta gentileza, você não imagina como estou feliz por ouvir você cantar para mim, “Mulher de trinta”, depois de quarenta anos de casados...

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