A margarina do Zé Dirceu
José Maurício Amendola
Durante quinze anos fui
companheiro petista do hoje tão falado José Dirceu. Digo quinze anos porque foi
o tempo que me transformei num vigoroso militante petista. Naquele tempo o PT
era coisa séria, era uma idéia nova. Para eu me filiar e formar o PT em
Ituverava tive que ler muito sobre a “literatura” petista, conforme me
aconselhou Suplicy na época. “Pra ser petista é precisa ler a literatura do PT
e aí você mesmo vai ver se é o PT mesmo que você quer”, disse-me Suplicy.
Li, gostei e fui aceito pelos
lá de cima. Formei o PT em Ituverava, Guará, Miguelópolis, Igarapava, Orlândia
e até ajudei em Ribeirão Preto e São Joaquim da Barra.
Após quinze anos de
militância petista, enfrentando a tudo e a quase todos, comecei a ver que o PT
estava começando a ser como os demais partidos políticos brasileiros. E vamos
falar a verdade, se todos os partidos políticos são iguais não há necessidade
de se filiar a um deles, pois todos eles, repito, todos os partidos têm gente
boa, honesta, e tem gente ruim, desonesta, malandra, sem vergonha. Todos!
Eu tinha bom contato com
Lula, Suplicy, Zé Dirceu e outros. Certa vez estava marcado um comício em
Ribeirão Preto num sábado, por volta do meio dia, na Praça XV, defronte o
Pinguim, em cima de um caminhão. Puxa vida, só estávamos nós do PT, não havia
ninguém. O Lula resolveu: não tem ninguém, o que vamos ficar fazendo aqui,
vamos embora, vamos almoçar, disse ele. Eu tive uma idéia: “por que não subimos
no caminhão e vamos andando pelas ruas da cidade, falando ao povo, cada um vai
falando um pouco”. Lula aceitou e fomos nós, cada um falando um pouco pelas
ruas de Ribeirão Preto.
Depois fomos almoçar num
restaurante da cidade e cada um pagou o seu.
Pois, bem, com o Zé Dirceu é
que eu conversava mais. Ele me dizia que PT precisava se profissionalizar e não
ficar só por conta dos militantes. Profissionalizar para ele era o PT contratar
e pagar um pessoal para escrever nos meios de comunicação, nos “cartas dos
leitores” e nos computadores.
Reconheço. O Zé Dirceu me
salvou duas vezes: uma vez um prefeito quis fechar meu Jornal Regional e Dirceu
conseguiu um jornalista profissional de São Paulo para salvar a minha situação.
E outra vez ele arrumou um advogado de São Paulo para me defender na Justiça,
pois outro prefeito também quis fechar o Jornal Regional. Arrumou um advogado
em São Paulo porque nenhum de Ituverava quis pegar uma causa contra o então
prefeito.
E as pressões contra este
jornal continuam até hoje.
Mas vamos voltar ao Zé
Dirceu. Algumas vezes ele alegava que “saí meio depressa de casa e esqueci meu
dinheiro no outro paletó. Paga aí um café e sanduiche”. Eu só queria ver a cara
dele no momento em que eu dissesse que também havia esquecido o dinheiro no
outro paletó.
Um cara no balcão pediu um
sanduiche com margarina e mortadela. O Zé Dirceu me perguntou se eu já havia
visto fabricação de margarina. Respondi que não, então ele me alertou: “Se você
um dia conhecer pessoalmente como se fabrica a margarina, você nunca mais come
isso, de tão porca que é”. E esse porca ele disse um pooorrrca bem amineirado,
e toda vez que passo margarina no pão me lembro dele e quase que a margarina me
embrulha o estômago.
O interessante é que já são
10 anos que o PT está no governo federal e nunca ouvi falar que houve alguma
proibição de fabricação de margarina no Brasil. Só escuto falar em corrupção.
Uma pena...
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