sexta-feira, 13 de maio de 2011

No tempo em que uma assinatura era uma assinatura

Há tempos que não o via andando pelas ruas da cidade. Fui vê-lo dias atrás, morto, no velório. Fiz uma prece, mas não deixei de lembrar-me de umas passagens do seu Torraca, vivenciadas por mim. Waldemar Torraca trabalhava nos Correios. Ele era como se dizia na época, o agente do correio. Desde menino eu não conformava com o nome "Correios". Ora, pensava eu, se havia apenas um correio, por que tinhamos que falar correios?
Meu pai, Paschoal Amendola, era proprietário do Posto São Luiz, que vendia gasolina, peças e pneus de carros e caminhões. E ele foi também agente da Chevrolet em Ituverava. Quase todos nós, os irmãos, trabalhamos no Posto São Luiz.
Muitas vezes chegava o carteiro e deixava um aviso de que havia chegado algúm objeto ou alguma carta registrada, que deveria ser retirado na própria agencia do Correio. O mesmo documento que o carteiro deixava tinha que ser assinado pelo meu pai, e levado até ao correio para a retirada da encomenda. Acontece que nem sempre meu pai estava ali no Posto São Luiz. Então, Nino, meu irmão, assinava o papel, tentando fazer uma imitação da assinatura de Paschoal Amendola. E lá ia eu buscar o objeto ou a carta no Correio.
Entregava o papel para o seu Torraca, ele examinava o documento. e o devolvia dizendo-me: "Não reconheço a assinatura do seu Paschoal . Leve de volta e peça para o seu pai assinar".
O que fazer, né?
Waldemar Torraca
Ia e voltava com a assinatura do meu pai. Aí, o seu Torraca dizia: "Agora sim, esta é a assinatura do seu Paschoal Amendola".
Waldemar TorracO seu Waldemar Torraca era um homem sério, cumpridor dos seus deveres e fazia questão que as outras pessoas também cumprissem com seus deveres. E ele estava certo.
Não posso deixar de comentar uma coisa que aconteceu comigo na noite em que ele faleceu. Prá mim, foi um mistério.
Eram dez, dez e quinze da noite, mais ou menos. Eu estava vendo um álbum de fotografias antigas. Fui virando as páginas, e, de repente, vi uma foto do Waldemar Torraca se divertindo, junto com sua mulher, dona Cecília Telles Torraca, e aquele mundão de gente, num dos famosos carnavais da Associação Atlética Ituveravense. Vi a foto,dei um sorriso e disse pra mim mesmo "olha o Waldemar Torraca!"
Naquele momento, segundo depois fiquei sabendo, ele estava dando o último suspiro e se despedindo desta vida...                                                                                                      

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